16 de nov. de 2010

Segundo olhar

Dia de prova. Estávamos atrasados, o relógio corria como nunca e apontava quinze minutos até o fechamento dos portões. A única solução além de um (im)possível tele transporte era pegar um táxi. Em São Paulo essa nunca é a minha primeira opção, mas nesse caso era a única chance de salvar o ano de estudo. Vi um taxista parado, fora do carro, estava de costas quando perguntei se estava livre, o vi fazendo sinal de positivo com a cabeça mas só foi assim até ver quem estava solicitando a corrida, ele olhou pra mim pausadamente olhou pro meu irmão como quem o media e então respondeu que não.
Não foi a primeira vez que deixei de ser atendida por causa da cor da minha pele, mas estava em um momento de adrenalina tão grande que senti aquilo como um soco na cara. Com os olhos segurando a água que não demorou muito até começar a cair tomei a frente do meu irmão pois num orgulho instintivo não queria ser vista chorando. Na verdade queria ter questionado o taxista, queria ter exigido, queria ter xingado mas tudo que eu fiz foi seguir a diante.
Conseguimos um táxi e chegamos a tempo. Mas fiquei com isso vários dias fazendo sombra na minha alegria.
Tratar desse assunto tem um revés muito grande, por mais que seja necessário e pra mim até dolorido ele gera dois tipos de reações que eu dispenso. A primeira é dos que ficam com
pena, acham que isso é realmente muito triste, mas não refletem sobre o quanto isso é grave.O quanto isso é crime.
E tem a segunda corrente, a daqueles que acreditam que é tudo um equívoco, que é impressão minha, que esse tipo de coisa não existe e em alguns casos pensa ser até paranóia. É o caso de quem não entende que não está no que alguém diz, está no modo como te olha, está justamente nesse segundo olhar.
Gostaria de estar em um nível de compreensão em que pudesse considerar o taxista um pobre coitado ignorante, vitima de uma sociedade em que pessoas com a pele mais clara tem mais valor (em todos os sentidos) mas não estou, me desculpem mas acho mesmo, e o adjetivo se faz necessário, que é um filho da puta.
O post tem cara de revolta, de indignação e é sim um pouco disso mas é também tristeza, é cansaço de quem se sente minoria mesmo sabendo estar entre iguais.

2 comentários:

  1. o ser humano é podre, é pobre de espírito, e esse lado ruim aflora sempre que surge uma pequena oportunidade.

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  2. Olá, desculpe invadir seu espaço assim sem avisar. Meu nome é Nayara e cheguei até vc através do Blog ponto final. Bom, tanta ousadia minha é para convidar vc pra seguir um blog do meu amigo Fabrício, que eu acho super interessante, a Narroterapia. Sabe como é, né? Quem escreve precisa de outro alguém do outro lado. Além disso, sinceramente gostei do seu comentário e do comentário de outras pessoas. A Narroterapia está se aprimorando, e com os comentários sinceros podemos nos nortear melhor. Divulgar não é tb nenhuma heresia, haja vista que no meio literário isso faz diferença na distribuição de um livro. Muitos autores divulgam seu trabalho até na televisão. Escrever é possível, divulgar é preciso! (rs) Dei uma linda no seu texto, vou continuar passando por aqui...rs


    Narroterapia:
    Uma terapia pra quem gosta de escrever. Assim é a narroterapia. São narrativas de fatos e sentimentos. Palavras sem nome, tímidas, nunca saíram de dentro, sempre morreram na garganta. Palavras com almas de puta que pelo menos enrubescem como as prostitutas de Doistoéviski, certamente um alívio para o pensamento, o mais arisco dos animais.

    Espero que vc aceite meu convite e siga meu blog, será um prazer ver seu rosto ali.
    http://narroterapia.blogspot.com/

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